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Sobre Cercas, Capitais e Capturas: Uma Análise da Estrutura de Poder em Moçambique a partir de Rousseau, Marx e Acemoglu

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Por: Curtis Chincuinha Resumo O artigo analisa a estrutura de poder em Moçambique a partir de um enquadramento teórico tripartido, combinando as abordagens de Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx e Daron Acemoglu. A partir da reflexão rousseauniana sobre a origem histórica da desigualdade e a fundação da propriedade privada, passando pela crítica marxista à dinâmica dos meios de produção e culminando na teoria institucionalista de Acemoglu sobre a configuração das instituições políticas e económicas, propõe-se uma leitura integrada da formação social moçambicana. Por meio de uma metodologia teórico-interpretativa, argumenta-se que certos desafios contemporâneos da organização política e económica do país estão enraizados em processos históricos de delimitação de recursos, concentração e fragilidade institucional. A análise, centrada na articulação entre estruturas de propriedade, relações de produção e desenho institucional, sugere que o fortalecimento democrático e o desenvolvimento inclu...

A Preguiça como Direito Político: Uma Releitura de Lafargue à Luz do Capitalismo Contemporâneo

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Trabalho, alienação e liberdade no pensamento de Paul Lafargue Por Curtis Chincuinha Resumo Este artigo propõe uma análise crítica da ideologia moderna do trabalho a partir da obra O Direito à Preguiça, de Paul Lafargue. Contrariando a visão dominante de que o trabalho dignifica e realiza o ser humano, Lafargue denuncia o culto ao labor como uma forma de escravização consentida, nascida do moralismo burguês e da lógica de acumulação capitalista. Com base numa leitura materialista, satírica e subversiva, o autor afirma que a preguiça é um direito humano fundamental, condição para a liberdade, para a saúde física e mental e para a criação cultural. Este artigo reconstrói criticamente os argumentos centrais de Lafargue, situando-os no contexto do século XIX, e explora a sua actualidade no contexto contemporâneo de hiper-produtividade e auto-exploração. Palavras-chave: Paul Lafargue, trabalho, preguiça, alienação, crítica social, ideologia, capitalismo. 1. Introdução Paul Lafargue foi um d...

Do Tradicional ao Digital: O Desafio do Uso dos Media Digitais na Administração Pública Moçambicana

Por Curtis Chincuinha Resumo O presente artigo analisa o actual estágio da comunicação institucional na Administração Pública Moçambicana, com foco nas tensões geradas pela transição da comunicação tradicional para o uso crescente de media digitais. A partir de dados sobre o acesso à internet e o uso de plataformas digitais, discutem-se as estratégias de comunicação da administração pública, os desafios enfrentados pelos departamentos de comunicação e a evolução das políticas de informação. O artigo também aborda as mudanças na forma como a administração pública interage com os cidadãos, considerando o direito à informação como um princípio orientador da governação pública. 1. Introdução A comunicação institucional é um elemento central na interação entre o Estado e a sociedade, desempenhando um papel vital na construção de uma governação transparente e eficaz. Em Moçambique, como em muitos outros países, a administração pública enfrenta uma série de desafios relacionados ao uso cresce...

O Impacto da Desinformação no Digital e a Estabilidade Política de Moçambique

Por Curtis Chincuinha Resumo O presente artigo analisa criticamente o impacto da desinformação digital na estabilidade política de Moçambique, com foco nos acontecimentos ocorridos antes, durante e após as eleições autárquicas de 2023. Através de uma abordagem teórica e contextual, o estudo explora a forma como o ecossistema digital tem sido manipulado para moldar percepções, alimentar a polarização e enfraquecer a confiança institucional. A pesquisa apoia-se em literatura académica relevante, dados oficiais e relatórios de organizações nacionais e internacionais, demonstrando que a desinformação constitui uma ameaça emergente à coesão nacional e ao processo democrático moçambicano. Defende-se, por fim, a urgência de estratégias coordenadas que envolvam regulação equilibrada, literacia digital e reforço do jornalismo independente como pilares essenciais para conter os riscos da manipulação informacional. 1. Introdução O presente artigo tem como tema “O Impacto da Desinformação Digital ...

Soberania em Risco: Como as Big Techs Reescrevem as Regras do Poder em Moçambique

Por Curtis Chincuinha  Resumo Este texto examina a crescente influência das Big Techs, como Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp), X (anteriormente Twitter), TikTok e outras plataformas dominantes, no contexto moçambicano. Ao longo da análise, são incorporadas as ideias de Nicolau Maquiavel, especialmente no que diz respeito à adaptação estratégica do Estado, e as reflexões de Evgeny Morozov sobre a atuação das Big Techs como "impérios digitais". O foco é o dilema do Estado moçambicano, que, diante do poder dessas plataformas, se vê na necessidade de resgatar sua soberania e autonomia política, sem perder a capacidade de adaptação que o cenário digital exige. Propõe-se uma reflexão crítica sobre como a dependência tecnológica e a extração de dados reforçam assimetrias globais, tema caro a Morozov, enquanto Maquiavel oferece insights sobre a necessidade de pragmatismo institucional para evitar a erosão do poder estatal. Destaca-se ainda a tensão entre a governança local e a heg...

SADC, Regulação Digital e Ordem Pública: Moçambique no Limite do Laissez-Faire

Por Curtis Chincuinha  Moçambique enfrenta uma crescente crise social marcada pelo desrespeito à hierarquia do Estado, à ordem legal, à propriedade privada e ao direito de circulação. A Constituição da República de Moçambique protege esses direitos fundamentais, estabelecendo, no seu Artigo 55, a liberdade de circulação e residência e, no Artigo 82, a inviolabilidade da propriedade privada. No entanto, a proliferação de manifestações de desobediência, ocupações ilegais, bloqueios de estradas e ataques ao património alheio demonstra uma deterioração da ordem social e levanta um alerta para os limites da autoridade do Estado. O cenário de instabilidade encontra nos media sociais uma força amplificadora. Plataformas como Facebook, X (antigo Twitter), TikTok e WhatsApp, bem como websites e fóruns , tornaram-se espaços onde discursos de ódio, incitação à violência e desinformação proliferam sem um controlo eficaz. O conceito de Web 2.0 , caracterizado pela interactividade e pela partici...

Pensamento Complexo: O Conceito de Edgar Morin Explicado de Forma Simples

Por Curtis Chincuinha  Aplicando o Pensamento Complexo no Mundo Real Nos últimos dias, um trecho da intervenção de um painelista numa televisão moçambicana tornou-se viral nas redes sociais. Durante o debate, ele fez referência ao conceito de pensamento complexo ao interpelar os seus pares no painel, mas, em vez de esclarecer, essa menção gerou uma onda de confusão. O vídeo repercutiu mais pela dificuldade em compreender o que realmente significa o pensamento complexo do que pela própria referência feita. Mas afinal, o que Edgar Morin propõe com esse conceito? Para esclarecer a sua aplicação prática e evitar equívocos, este artigo utiliza um exemplo concreto — a nomeação do ministro X — para explicar o que é o pensamento complexo. O Que é o Pensamento Complexo? O pensamento complexo, formulado por Edgar Morin, representa uma crítica ao modelo tradicional de conhecimento, que tende a dividir o mundo em partes isoladas e simplificadas. Morin (1990) propõe que a realidade é multifacet...