Pensamento Complexo: O Conceito de Edgar Morin Explicado de Forma Simples
Por Curtis Chincuinha
Aplicando o Pensamento Complexo no Mundo Real
Nos últimos dias, um trecho da intervenção de um painelista numa televisão moçambicana tornou-se viral nas redes sociais. Durante o debate, ele fez referência ao conceito de pensamento complexo ao interpelar os seus pares no painel, mas, em vez de esclarecer, essa menção gerou uma onda de confusão. O vídeo repercutiu mais pela dificuldade em compreender o que realmente significa o pensamento complexo do que pela própria referência feita. Mas afinal, o que Edgar Morin propõe com esse conceito? Para esclarecer a sua aplicação prática e evitar equívocos, este artigo utiliza um exemplo concreto — a nomeação do ministro X — para explicar o que é o pensamento complexo.
O Que é o Pensamento Complexo?
O pensamento complexo, formulado por Edgar Morin, representa uma crítica ao modelo tradicional de conhecimento, que tende a dividir o mundo em partes isoladas e simplificadas. Morin (1990) propõe que a realidade é multifacetada e não pode ser compreendida apenas por meio de análises lineares e reducionistas. Ele defende uma visão integrada, que leva em consideração as interconexões entre os diversos aspectos de um fenómeno e reconhece a imprevisibilidade das suas consequências.
Morin introduz três princípios fundamentais do pensamento complexo:
1. Princípio Dialógico: Elementos opostos podem coexistir e interagir de forma a criar novas realidades, sendo que a contradição faz parte da dinâmica do todo.
2. Princípio da Recursividade: O sistema é formado por interacções recíprocas, o que significa que as causas e efeitos se influenciam mutuamente de forma contínua.
3. Princípio Hologramático: Cada parte reflete o todo, e o todo está presente em cada parte, desafiando a ideia de que é possível entender um fenómeno isoladamente.
Este tipo de pensamento não se limita a uma análise linear, mas considera as múltiplas interacções que constituem um sistema, considerando sempre a complexidade e as relações imprevistas que surgem dessas interacções.
Aplicando o Pensamento Complexo no Mundo Real
A nomeação de um ministro X para o governo pode parecer, à primeira vista, uma decisão simples, baseada em critérios de competência, lealdade política ou necessidades de gestão. Contudo, sob a óptica do pensamento complexo, a nomeação deste ministro envolve um emaranhado de factores interligados que vão muito além de uma escolha individual.
1. Factores Políticos e Institucionais
A nomeação não é apenas uma decisão do presidente ou do governo, mas envolve uma série de negociações entre partidos, alianças políticas, interesses institucionais e até mesmo a gestão de uma imagem pública. A escolha de um ministro pode ser influenciada por questões como a distribuição de poder entre os grupos políticos, as expectativas da população e a necessidade de garantir a estabilidade governamental. Aqui, as interacções entre o político, o partido e as instituições demonstram a complexidade das decisões, onde a simples escolha de uma pessoa para um cargo esconde múltiplos interesses em jogo.
2. Impacto Social e Económico
Uma vez nomeado, o ministro X passa a ser uma figura pública, e a sua nomeação pode ter repercussões directas na sociedade. Dependendo da área que lidera, o impacto pode ser ainda maior, influenciando políticas públicas que afetam a vida de milhões de cidadãos. A nomeação pode ser vista positivamente por alguns e criticada por outros, provocando reacções tanto no mercado, quanto nas redes sociais. A percepção pública da escolha vai moldar a imagem do governo, e a avaliação de sua competência pode ter implicações políticas no longo prazo.
3. Incertezas e Consequências Imprevisíveis
Por fim, o pensamento complexo nos lembra que o futuro é sempre incerto. A nomeação do ministro X pode ser influenciada por uma série de factores imprevistos: uma crise económica, uma mudança nas relações internacionais ou até mesmo um escândalo envolvendo o próprio ministro. Tudo isso pode alterar o curso da política e do governo, demonstrando como um evento, aparentemente simples, pode ter efeitos complexos e inesperados.
Conclusão
O pensamento complexo de Edgar Morin nos ensina que, ao tentar compreender qualquer fenómeno, não devemos simplificar a realidade em partes isoladas, mas sim abraçar a sua complexidade. A nomeação de um ministro X, como exemplo prático, ilustra como um simples acto administrativo está profundamente entrelaçado com múltiplos factores e dinâmicas que não podem ser entendidos de forma linear. Para Edgar Morin, compreender a complexidade é fundamental para entender o mundo e agir de maneira mais consciente em face das incertezas e mudanças contínuas.
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Referência
Morin, E. (1990). Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Edições 70.