A Era da Psicologia das Redes Sociais: Uma análise à luz do Simulacro de Jean Baudrillard

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Uma singela provocação ao Psicólogo e Professor Narciso Benjamim Faduco.

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 Por Curtis Chincuinha


Resumo

Este artigo explora a intersecção entre a teoria do simulacro de Jean Baudrillard e o impacto da psicologia das redes sociais na mente humana contemporânea. À medida que as redes sociais se tornam a principal forma de comunicação e de construção de identidade, questiona-se a natureza do real e do hiper-real nessas plataformas, e como essas dinâmicas influenciam a saúde mental e a percepção do eu. Com base na obra "Simulacros e Simulação" de Baudrillard, analisamos como as redes sociais criam e perpetuam simulacros que redefinem a percepção da realidade na era da informação.

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Jean Baudrillard, em sua obra seminal "Simulacros e Simulação", argumenta que, na sociedade pós-moderna, as distinções entre o real e o imaginário tornam-se cada vez mais indistintas. O conceito de simulacro, desenvolvido por ele, refere-se a cópias que não têm um original ou que, através de repetições, tornam-se mais reais do que o próprio real. Neste sentido, Baudrillard descreve quatro fases do simulacro que, eventualmente, levam ao domínio do hiper-real, uma realidade fabricada que não corresponde a nenhuma verdade subjacente. Aplicando este conceito à psicologia das redes sociais, podemos identificar importantes implicações para a construção da identidade e a percepção da realidade.


No contexto da psicologia das redes sociais, os simulacros assumem uma nova forma, onde a manipulação de imagens, vídeos e informações cria realidades alternativas que, muitas vezes, são mais convincentes e atraentes do que a realidade física. Nas redes sociais, por exemplo, constroem-se identidades hiper-reais que não têm correspondência direta com a vida cotidiana dos indivíduos. 


Estas identidades digitais, cuidadosamente curadas e projetadas para uma audiência, tornam-se mais "reais" para o observador do que a verdadeira pessoa por detrás do perfil. Psicologicamente, este fenómeno pode levar a uma desconexão entre a identidade real e a identidade percebida, resultando em questões como ansiedade, depressão e distorção da autoimagem.


Baudrillard argumenta que, na era do simulacro, a noção de realidade é eclipsada pela hiper-realidade. Na psicologia das redes sociais, essa hiper-realidade manifesta-se através da criação de narrativas e imagens que não só distorcem a realidade, mas a substituem por completo. A proliferação de perfis falsos, a edição de imagens e vídeos, e a curadoria algorítmica de conteúdo são exemplos claros de como as redes sociais podem criar um mundo onde a realidade se torna irrelevante. 


Para a psicologia, isso representa um desafio significativo: como distinguir o que é real do que é fabricado, especialmente quando a mente humana é constantemente bombardeada com versões idealizadas e distorcidas da realidade? Este ambiente pode gerar um estado de confusão mental, onde a percepção da verdade é substituída por construções artificiais, exacerbando sentimentos de alienação e perda de autenticidade.


As implicações dos simulacros na psicologia das redes sociais são profundas e multifacetadas. A sociedade corre o risco de viver numa constante simulação, onde o real e o imaginário se fundem numa hiper-realidade inescapável. Este fenómeno tem consequências tanto na formação da identidade individual quanto nas dinâmicas sociais, onde as interações passam a ser mediadas por representações digitais em vez de experiências reais e tangíveis. Baudrillard, ao descrever o simulacro, alerta-nos para as armadilhas de uma realidade fabricada, que pode facilmente se tornar uma prisão psicológica para aqueles que não a reconhecem como tal.


Portanto, a teoria do simulacro de Jean Baudrillard oferece uma lente crítica indispensável para compreender o impacto da psicologia das redes sociais na sociedade contemporânea.


 À medida que nos imergimos cada vez mais no universo digital, torna-se crucial refletir sobre a natureza das realidades que consumimos e sobre como essas realidades, muitas vezes, são construídas e controladas por simulacros. Para a psicologia, reconhecer a distinção entre o real e o hiper-real é um passo essencial para ajudar indivíduos a navegarem de forma crítica na era das redes sociais, preservando assim a saúde mental e o sentido de autenticidade.


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