O Desgaste da Sociedade e os Protestos no Quénia: A Geração Z na Linha de Frente

 Por Curtis Chincuinha 


Recentemente, o Quénia foi palco de protestos generalizados liderados pela juventude, especialmente a Geração Z, convocados através de plataformas como o TikTok. O Presidente William Ruto, em resposta, anunciou a demissão de quase todo o seu gabinete e a realização de "consultas alargadas" para formar um "governo de base alargada". Esses eventos reflectem não apenas um descontentamento com as condições económicas, mas também a exaustão que Byung-Chul Han descreve em sua teoria da sociedade do cansaço.


Byung-Chul Han, em "The Burnout Society" (2015), descreve uma sociedade onde o indivíduo é pressionado a ser produtivo e eficiente em todos os aspectos da vida, resultando em uma exaustão física, mental e emocional. No Quénia, a inflação anual de 5,1%, com aumentos de 6,2% nos preços de alimentos e 7,8% nos combustíveis, tem sobrecarregado a população. A decisão do governo de aplicar taxas adicionais sobre produtos importados e digitais, como celulares e equipamentos de rádio e televisão, apenas exacerba essa pressão, especialmente para os jovens que dependem da economia digital para sua subsistência.


A Geração Z, ao utilizar o TikTok para convocar e alimentar manifestações, demonstra a intersecção entre a sociedade do cansaço e a revolta contra as condições económicas adversas. Esta geração, nascida e criada em um ambiente digital, utiliza suas ferramentas nativas para mobilização, mas enfrenta um custo de vida crescente que ameaça seu bem-estar e futuro. O aumento no custo dos produtos digitais, essenciais para a comunicação e a economia digital, é particularmente prejudicial, tornando a vida ainda mais onerosa para uma geração já sobrecarregada.


Os protestos no Quénia também destacam a insatisfação com propostas como a introdução de um imposto de 16% sobre bens e serviços para a construção e equipamento de hospitais especializados. Embora tais medidas possam ter intenções positivas a longo prazo, no curto prazo, elas aumentam ainda mais a carga financeira sobre a população, especialmente em tempos de crise económica.


Este cenário no Quénia serve como um alerta para outros países da África. A exaustão resultante do alto custo de vida pode levar a uma mobilização social significativa, especialmente quando combinada com a facilidade de comunicação e organização proporcionada pelas redes sociais. É crucial que os governos africanos reflictam sobre as causas desses protestos e tomem medidas para mitigar o impacto económico sobre suas populações.


A solução passa por políticas económicas que equilibrem a necessidade de crescimento com a protecção do bem-estar da população. Medidas como a redução de impostos sobre produtos essenciais e o incentivo à produção local podem aliviar parte da carga económica. Além disso, é fundamental que os governos mantenham um diálogo aberto com a juventude, ouvindo suas preocupações e trabalhando para construir um futuro mais sustentável e justo.


Em suma, os protestos no Quénia são um reflexo da exaustão descrita por Byung-Chul Han, exacerbada pelas condições económicas adversas. É imperativo que os governos africanos aprendam com essa situação e tomem medidas preventivas para evitar que a miséria e a exaustão levem a mobilizações sociais semelhantes em outros países.

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